quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Desafie sua mente






A sociedade é um sistema complexo que cria pontes entre os indivíduos, suas personalidades, e os papéis sociais que devem ser desempenhados para que o todo continue a funcionar. Sempre tive uma dúvida: se somos individualmente tão diferentes uns dos outros, o que mantém as coisas mais ou menos constantes ao longo do tempo? A resposta agora me parece simples: somos nós mesmos. A realidade depende de todos para continuar sendo real. É a própria descrição de mundo dos participantes deste próprio mundo que o faz seguir tendo a mesma estrutura. Ao olhar para uma situação e avaliá-la, externando uma opinião a partir da consciência discursiva (tenha ela a valência que tiver), estamos reforçando aquela determinada forma de ação, contribuindo para a retroalimentação do sistema. Se, por exemplo, eu acreditar que algumas atitudes são aceitáveis e outras não, me baseando em critérios que me foram ensinados desde uma idade muito primária, eu estou, mesmo de maneira inadvertida, praticando o lado mais normativo e mecânico do jogo social. Avaliações tendem a manter as coisas como são, assim como conceitos e definições. Ao vermos uma mãe que sempre reclama as mesmas coisas do filho, podemos perceber que a reclamação é ao mesmo tempo uma observação de um comportamento, e uma reflexividade que mantém aquele comportamento exatamente da maneira percebida e descrita. "Sou assim mesmo", admite o filho, e o ciclo da existência recomeça. 


Olhando a questão mais profundamente percebemos que o ser humano estruturou sua forma social de vida de uma maneira muito astuta do ponto de vista de sua segurança psicológica. A rotina é segura, os rótulos que a história nos oferece nos deixam mais tranqüilos dentro de uma concepção (questionável) de que conhecemos a vida e suas manifestações. Uma frase de Durkhein: "a sociedade está na mente das pessoas", é um resumo brilhante desse modo de operar. Nos venderam liberdade, mas nos entregam limites. Compramos escolhas, mas recebemos caminhos traçados.

E como transformar este ciclo? Como quebrar a inércia da estabilidade inerente ao sistema? O primeiro esforço individual deve vir no sentido de "parar o mundo", para utilizar a expressão de Castaneda, ou seja, parar de tentar descrever a realidade a todo instante, justificando e identificando posições e situações. Sem o reforço da consciência, a ilusão da realidade à la Matrix entra em colapso, dando espaço para o silêncio e as infinitas possibilidades presentes na natureza mais profunda de nossa constituição.



Desafie sua mente!



terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Vida livre





Hábitos são ações condicionadas pela história pessoal, repetições do lado mecânico e compulsivo de nossa consciência moldada pela urbanidade. É quem pensamos ser que nos mantém como pensamos ser. Nos vemos humanos, inteligentes e capazes, esquecendo dos animais que habitam dentro de nós e pedem passagem para ser livres, para voar, rosnar, correr, rugir... somos um cativeiro de instintos e vontades, um conteiner que se enche na medida em que nos reprimimos, e que um dia qualquer vaza, extravasa, rasga o véu aparente de nossa polidez. É preciso uma grande dose de energia para se libertar das amarras do eu. Para perder a ilusão do controle. Para ouvir o chamado. Romper as descrições de nós mesmos, desestruturar os velhos conceitos, o ciclo no qual fomos concebidos, a rotina, os mesmos padrões de pensar e agir... o turbilhão.................................................................


........................... o silêncio... no silêncio há uma voz suave... a voz da essência... que vem nos contar belas histórias sobre novas possibilidades... e ao ouvir tamanha leveza a alma sorri como quem pela primeira vez vai ao circo... com a inocência do peito aberto... nada a perder.. nada a ganhar... nenhum lugar para ir... somente uma sensação de felicidade... a alegria verdadeira que mora no coração, e que por vezes, quando consegue vir à tona, mostra o estado de graça que está ao alcance de todos... todos... sem exceção... é um caminho difícil.. requer atenção impecável, vontade e muita disposição... dizem que somos um somatório de nossas escolhas... eu definitivamente escolhi caminhar... firme na trilha mais longa, mais íngreme, mais complicada, que me levará ao lugar mais belo de todos: uma vida livre!


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Derretendo


No calor do verão as horas passam mais lentas. Como se os ponteiros derretessem em um surreal relógio de Dali. Olho através da janela fechada, de dentro do ambiente climatizado, e posso sentir o calor na copa das árvores tremulas. Há uma brisa quente que lembra o ar que sai quando se abre o forno da cozinha. Há uma aparente calma na cidade vazia, parada, por vezes melancólica. Saio na rua, me sinto pegajoso, estou derretendo junto com os relógios e os sorvetes. Reclamar é fácil e pouco ajuda, mas existem momentos em que é difícil de resistir à tentação delirante de querer estar em outro lugar... felizes são os cubos de gelo no meu freezer...


...dez graus a menos por favor!