domingo, 31 de maio de 2009

Carta do chefe Seattle

Resposta do cacique Seattle ao presidente americano F. Pierce que tentava comprar as suas terras. Um exemplo de consciência holistíca e ecológica e uma amostra da sabedoria de nossos ancestrais indígenas.


"O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro: o animal, a árvore o homem, todos compartilham o mesmo ar. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao (seu próprio) mau cheiro. (...)

Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se nós decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos

O que é o homem sem os animais? Se os animais se fossem, o homem morreria de uma solidão de espirito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma lição em tudo. Tudo está ligado.

Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com a vida de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas: que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer a terra acontecerá também aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.

Disto nós sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem é que pertence à terra. Disto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.

O que ocorre com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não teceu a teia da vida: ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizermos ao tecido, fará o homem a si mesmo.

Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala como ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos ( e o homem branco poderá vir a descobrir um dia): Deus é um só, qualquer que seja o nome que lhe dêem. Vocês podem pensar que O possuem, como desejam possuir nossa terra; mas não é possível. Ele é o Deus do homem e sua compaixão é igual para o homem branco e para o homem vermelho. A terra lhe é preciosa e feri-la é desprezar o seu Criador. Os homens brancos também passarão; talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.

Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente iluminados pela força de Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos das florestas densas impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruídas por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a água? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência.

Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece um pouco estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los.

Cada pedaço de terra é sagrado para o meu povo. Cada ramo brilhante de pinheiro, cada punhado de areia das praias , a penumbra da floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência do meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho...

Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhe vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais.

Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhe vendermos nossa terra vocês devem lembrar e ensinar para seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem, dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra tudo que necessita. A terra, para ele, não é sua irmã, mas sua inimiga e, quando ele a conquista, extraindo dela o que deseja, prossegue seu caminho. Deixa para traz os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa...Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.

Eu não sei... nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez porque o homem vermelho seja um selvagem e não compreenda.

Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater de asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o que resta de um homem, se não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros."

sábado, 30 de maio de 2009

Na altitude

Hoje vivo intensamente sensações aleatórias...

Viajando por dimensões cósmicas do além-mundo
Soltei as amarras que se insinuavam em minha volta
As mesmas que prendem ao estigma do cotidiano
Homens sem vontade... corpos sem coragem

Ignição... partida!

Aprendi a exercer a potência de minhas sinapses
No máximo oculto da intensidade de minha alma
Que se movimenta e se expande
Quando vivencio uma nova realidade
Além dos sentidos...

As variações do mesmo tema são infindáveis
Desdobram-se umas sobre as outras no vácuo da existência
Elevando e sublimando minha consciência...

No torpor da altitude enxergo com clareza
Vejo com os olhos de minha plenitude...
Aqueles que desconhecem as formas
Mas percebem os conteúdos


quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sobre o tempo

Com um copo de água na mão, parado na cozinha, olhando o céu nublado pela janela, se pôs a pensar. Tinha desenvolvido o hábito de abandonar o corpo parado em um certo lugar, enquanto colocava os pensamentos a caminhar. Também gostava de pensar caminhando, ou de pensar com os pés, como haviam lhe dito certa vez. O mais importante não era o meio, mas sim a distância e a profundidade da viagem. E nestes constantes deslocamentos de nexo e espaço, acabou criando afinidade especial com alguns devaneios que particularmente lhe agradavam. Eles eram de um tipo capaz de desafiar o senso de realidade. Um de seus temas prediletos era o tempo. Em longas conversas ébrias já havia divagado sobre sua inexistência, defendendo o conceito de que a organização do tempo, o relógio, o sistema de horas, minutos e segundos, não passava de uma convenção criada pelo homem, e para o homem. Nesse ponto defendia a relatividade absoluta de toda percepção. Afinal, como certos dias passam mais rápidos que outros? Como minutos levam semanas, e como semanas passam em um punhado de dias? Eram argumentos falíveis, porém aceitáveis, centrados em nossa limitação perceptiva (ou seria em nossa desprezada supercapacidade perceptiva) de internalizar o horário (ou de perceber muito além dele). Isso, dizia ele convicto, não nos pertence. Não existe. Não faz parte da natureza. Natural é ser, estar e permanecer, sabendo que cada pequeno momento carrega em si um grande poder, o milagre da existência.


terça-feira, 19 de maio de 2009

Lugar de ser feliz não é supermercado

O dia é quente. Do asfalto sobe um vapor denso que parece sólido. Parado na esquina ele acompanha o movimento com os olhos. Carros, pessoas, buzinas, policiais, ônibus, pizzas e auto-falantes... cotidiano puro e cristalino. Ele se sente entediado... não sabe bem por que esse vazio o consome... decide então se movimentar... caminha por alamedas, ruas tortuosas, passeios públicos.... casas caindo na calçada, uma mansão, uma visão, outra vida, observação... cachorros, postes, uma aglomeração... semáforo, esquinas, faixa de pedestres, vento quente e uma divagação... fim da calçada... chega na beira do rio... senta em uma pedra, a mais alta que ele consegue encontrar. Olha o horizonte: um pássaro, um lixo que bóia, uma vela, margem e correnteza, uma fortaleza. Por uns minutos esquece da confusão se perdendo no emaranhado de sua própria memória. Lembra do tempo em que as coisas eram feitas para durar... da época em que tudo parecia ser mais simples, menos tumulto, menos agressão, menos excesso. Então subitamente acordado da viagem mental, volta a encarar a realidade suja e abafada da quarta-feira de verão na cidade. Inicia uma busca, uma caçada pela culpa dentro de si mesmo. Onde no caminho teria ele perdido a trilha que leva à felicidade? Por mais longa que fosse a conexão de seus pensamentos não conseguia encontrar coisa alguma que fizesse sentido. Ele tinha um bom emprego, dinheiro não faltava, tinha uma família, carinho, atenção, admiração, sucesso, respeito e acima de tudo vida... sim... por mais esvaziado que estivesse sabia estar vivo e isso representava toda a esperança que nutria nesse momento. Quantos não dariam tudo para ser ele? Quantos não tinham uma inveja visceral de sua condição? Não, não, não... estaria ficando louco? O que seria então a loucura? Rejeitava completamente a possibilidade de que naquele dia, naquele momento, houvesse uma saída para sua agonia... tinha lutado por toda sua vida para alcançar status... para ascender, subir, atingir o ápice... e agora o alpinismo social tinha feito dele uma marionete... sim... sim... sim... alpinismo social que tirou o oxigênio de sua alma como ocorre com os montanhistas nas grandes altitudes... todos os seus atos regidos por uma demoníaca ambição alimentavam seu ceticismo frente à metafísica... sua descrença no ser humano... sua ausência de valores... então de repente ele pára... fica imóvel... nem as idéias passam... olha no relógio cabisbaixo, é hora de ir ao supermercado... hora de voltar a ser um ser qualquer... mas ele não tem vontade... preferia continuar indiferente, mas dirige seu carro pelas ruas movido pela energia da inércia... de novo passa por avenidas, esquinas, futebol, telenovela na vitrine, pessoas apressadas, pessoas exageradas... chegando no templo do consumo ele pega um carrinho e inicia a jornada pela terra das marcas... primeiro corredor: queijo, presunto, uma fila, pão, salsichas e calabresa... segunda corredor: massa, queijo ralado, molho de tomate, milho, ervilha, uma lata cai no chão, aspargos (ele adora aspargos)... terceiro corredor: suco, refrigerantes, cervejas e uma garrafa de vodca... quarto corredor: escova de dente, pasta de dente, escolhe o desodorante, o shampoo está acabando, fio dental, rolo de papel higiênico... se sente cansado... chateado... agoniado... caminha até a fruteira e compra ovos, alface, tomate, cebola, batata, couve-flor... queria rabanete, mas acaba levando quiabo... chegando no açougue escolhe o bife, o frango, pede guisado, espera olhando para a parede descascada... queria tanto saber voar, saber separar o corpo da alma para levitar por campos de flores amarelas e vermelhas na infinitude de seu paraíso pessoal... lentamente se arrasta até o caixa... já não se sente tão mal, agora está pior... seus olhos piscam freneticamente, sua boca se contrai espontaneamente... ele pode sentir a pressão da tensão que quase arrebenta seus músculos rígidos... em sua cabeça uma dor... em sua testa uma tonelada de preocupações... a última compra... passa pelo caixa que diz o valor... tira seu cartão de crédito do bolso com as mãos trêmulas e estende para o atendente... assina o comprovante, guarda a nota... vai até o carro... abre o porta-malas... joga as sacolas... um fluxo de energia vindo do umbigo sobe até os cabelos... ele bate a porta... esmurra o volante... sente sua apatia se transformar em raiva... liga o carro, sai da garagem e olha o relógio... é hora de buscar a mulher e os filhos... é hora de ser o bom marido novamente... de representar o papel mais conhecido de sua pífia vida... dobra uma esquina... sinal vermelho... ele pára... ele escuta... ele pensa... longe ouve gritos... ouve uma buzina... o sinal abriu e ele não viu.... arranca, corre, acelera... quer atingir a velocidade de escape... sim... velocidade de escape... em sua mente essa última palavra brilha intensamente... como se acendesse uma luz na escuridão de uma caverna: ESCAPE! E então ele vira à direita... e outra direita... está na estrada... se distanciando... se distanciando... passa uma hora e ele continua dirigindo... o celular toca... ele olha... é sua esposa... num movimento arremessa o aparelho pela janela... se sente mais leve... mais calmo... abre os olhos... levanta a cabeça... estufa o peito... se sente em controle... expandindo... crescendo... na beira da estrada um menino sentado... ele pára... quer fazer algo por alguém... abre o porta-malas... tira as compras e deixa do lado do garoto... entra no carro correndo e rindo... um riso histérico lisérgico... uma leveza transcendental... dirige mais um pouco... encosta o carro na beira da lagoa... coloca o ponto morto ... sai do carro e empurra, empurra, empurra... assiste o carro afundando lentamente... lentamente... lentamente... e ri... ri tão alto que cansa... o sol está se pondo... pela primeira vez nos últimos tempos está alegre... tranqüilo... quieto... completo... caminha sem direção... lembra do gato de Alice: tanto faz o caminho para quem não sabe aonde quer chegar... uma última risada... um último suspiro... e ele entra noite adentro destemido... indo para algum lugar onde se possa ser feliz...(o que quer que isso signifique)...


Escrito em Janeiro de 2005 - reencontrado após anos perdido

sábado, 9 de maio de 2009

Confúcio


"Não viveu em vão aquele que morre no dia em que descobre o caminho."

Confúcio


quarta-feira, 6 de maio de 2009

O último ensinamento



Baseado em uma bela história contada por um buscador xamânico.









Era um índio de espírito forte, homem sábio, de poucas e sinceras palavras certeiras. Seu olhar de águia tinha um brilho de estrela em noite sem lua. Costumava fitar o horizonte, além, como se enxergasse mais do que os olhos vêem. Tinha uma integridade, uma certa postura frente à vida, um jeito de se movimentar, que inspirava confiança e força. Sabia falar bem, mas sabia calar melhor, costumava dizer que o homem tem dois ouvidos e uma boca não por mero acaso. Aliás sempre lembrava a todos que o acaso era um disfarce do grande mistério (conhecido por nós como Deus) para atingir o coração dos sem fé. Este homem era respeitado por todos pela simples energia vibrante de sua presença. Era um sujeito sério e sorridente, alegre e livre, leve mas imponente, e tinha uma vontade que nada poderia parar. Era um xamã, um filho do trovão com o vento, sobrinho do mar, primo do sol, irmão da terra, amigo intímo dos animais e das árvores, e amante da lua. Um buscador e sonhador, um guerreiro e visionário que percebia todos os sinais do universo em sua volta, os transformando em conhecimento.

Certa vez, já cansado e com a idade avançada, deitou-se em sua cama pronto para a última jornada. Era chegada a hora de partir para estrada azul do espírito através do portal do leste (local onde a estrada vermelha - nossa caminhada na terra - começa e termina). A notícia logo se espalhou, e em pouco tempo seus admiradores e discípulos juntaram-se em sua volta para honrar o mestre pela última vez, todos muito emocionados. Nervoso e triste, um dos rapazes mais velhos se dirigiu a ele pedindo uma última mensagem de sabedoria, algumas últimas palavras para eles levarem consigo. O velho índio o olhou nos olhos e pediu um favor, gostaria de comer um pedaço de sua torta predileta, a que ele mais gostava, antes de proferir o tal ensinamento final. Alguns saíram e foram providenciar a torta, logo trazendo um belo pedaço para o velho Xamã, que saboreou cada garfada com uma expressão sincera de agradecimento. Enquanto a torta ia acabando, as pessoas na sala se enchiam de expectativa sobre a grande mensagem que viria a seguir. E então, quando chegou o momento do último pedaço, todos se curvaram para ouvir melhor. Fez-se o silêncio do vazio na sala, todos olhando para o mestre que apenas sorriu, dando um longo e grande suspiro de prazer antes de fechar os olhos e partir.


terça-feira, 5 de maio de 2009

Arte é vida


São muitas idéias que pairam me circulando, voando em minha volta, visitando meu espaço. As vezes uma cai em meu colo, eu a observo, ela me olha, pinta um clima, eu levanto e começo a escrever. Os dedos se movem, os olhos fixos, materializando letras em uma tela branca, no processo criativo que libera energia, honrando a fonte de toda a beleza ainda pura, a arte singela da expressão, do "dar vida" aos pensamentos e intuições.

A arte é uma lingüagem avançada, pois permite uma liberdade de espírito admirável, alçar vôos da imaginação, conectar com a força motriz da criação. Vejo os artistas, e neles vejo pessoas especiais, que conseguiram unir o conteúdo de suas idéias com sua profissão, sua forma de viver e sobreviver. Qual o limite entre o artista criador e o artista vivente que observa o mundo a girar através de sua retina, buscando inspiração em cada passo sobre a mãe terra? Acho incrível a capacidade que algumas obras do homem têm em causar alterações, transformações, questionamentos, despertar emoções ao clique de um teclado, na ponta de um pincel, no ferro retorcido, na forma, na dança, no som, na cor, na dor que se move, no amor que tudo pode... infinita beleza.. um pequeno pedaço do universo disponível para todos que sabem contemplar.

VIVA TODA FORMA DE ARTE! DESCUBRA O ARTISTA DENTRO DE VOCÊ!

! ARTE É VIDA !