sábado, 14 de março de 2009

O tio da garagem

Parado de pé lá estava ele. No alto de sua alta idade. Seus olhos transpareciam experiência. Sabedoria que o tempo traz, paciência. As mãos enrugadas. O rosto inexpressivo. Parecia um museu vivo. Uma estátua quase humana. Sou nome era desconhecido. Mais uma figura impessoal que habitava seus dias. Era participante anônimo de sua rotina. Nos meses que deixara seu carro ali, se restringiu a trocar "opas" diários alternados com "ois" boêmios. Ficava imaginando o que ele fazia lá, naquela garagem. Noites adentro na madruga sem fim. Dormindo e acordando acompanhado por carros vazios, luzes baixas e uma televisão pequena e velha. Como seria a voz dos automóveis desligados? O que dizem as motos quando estão paradas? Qual o som de uma bicicleta acorrentada? Será que ela reclama da falta de liberdade? (onde está meu dono que me deixou aqui parada esses meses!??!) E os paralelepípedos desalinhados, conversam com as paredes? O que será que esse senhor do opa faz toda noite, mais uma noite, mais um dia, vendo pessoas passarem, indo e vindo, e ele lá, encostado no mesmo lugar, a mesma velha cadeira, o mesmo velho olhar. Observador passivo da vida que se move. Observador que vê o movimento alheio sem sair do lugar. Participando de vidas sem participar. Estando ali sem estar.

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